Quarta-feira, 12 de janeiro de 2005
Sinal fechado
Vermelho. Amarelo. Verde. A vida segue no ritmo intenso do tráfego. No ziguezague dos motoqueiros. Na histeria das buzinas. Na fumaça preta dos ônibus. Na malandragem dos taxistas.
Há três anos Gilda trabalha nas ruas. Papel e caneta na mão anotando placas. Apito na boca mandando parar ou seguir. Coreografia de braços nervosos no caótico balé do asfalto. A garoa fria, o vento cortante. 13 graus. Qualidade do ar: imprópria.
E o Motoboy estendido no chão: sete pontos na carteira. Correria. Confusão de sirenes e macas. Olhares curiosos pelas janelas do ônibus. Mais um número para as estatísticas.
No espelho do carro, a garota retoca o batom. Um homem confere a agenda e o relógio. O engolidor de fogo e a equilibrista dão um ar circense ao espetáculo das ruas. Balas nos retrovisores. Vidros blindados. Crianças passeiam entre os automóveis. Pedestres apressados pedem passagem.
Gilda confere o relógio: 18h00. Os ponteiros parecem acompanhar o lento caminhar do trânsito.
Gisele chegou estranha em casa, ontem. Há tempos tem notado o afastamento gradativo da filha mais velha: mantenha distância. Gilda não vai mesmo com a cara daquele garoto com quem Gisele anda saindo. Acesso proibido.
Bi biiiiiiiiiiiiii. 9 graus, 20h00, qualidade do ar: imprópria. Chegando em casa tem de preparar o jantar. Vai conversar com a filha ainda hoje. Dizer que ela precisa voltar para o colégio. Precisar ser alguém na vida.
Freada brusca. Batida policial. Assalto ao ônibus. Infração gravíssima.
Parece que encontraram um homem morto na calçada. O painel eletrônico avisa que esta foi a madrugada mais fria do ano. Gilda detesta o frio. O vento gelando os ossos. Tudo congestionado.
E Mauro que não encontra nunca um emprego. Cada dia mais nervoso. Ele também não gosta daquele menino que Gisele está namorando. Também quer que ela volte a estudar.
No outdoor, jovens belos e sorridentes, de jaleco branco, observam através do microscópio. Uma frase avisa que uma carreira de sucesso começa ali.
BMWs, lotações, ônibus, bicicletas. A vida flui com dificuldade. Passagens interditadas. Pontos de alagamento. Estacionamento permitido apenas para veículos autorizados.
No bilhete da geladeira, a caligrafia arredondada de Gisele anuncia a fuga. Pé na estrada. Contramão.
Há três anos Gilda trabalha nas ruas. Papel e caneta na mão anotando placas. Apito na boca mandando parar ou seguir. Coreografia de braços nervosos no caótico balé do asfalto. A garoa fria, o vento cortante. 13 graus. Qualidade do ar: imprópria.
E o Motoboy estendido no chão: sete pontos na carteira. Correria. Confusão de sirenes e macas. Olhares curiosos pelas janelas do ônibus. Mais um número para as estatísticas.
No espelho do carro, a garota retoca o batom. Um homem confere a agenda e o relógio. O engolidor de fogo e a equilibrista dão um ar circense ao espetáculo das ruas. Balas nos retrovisores. Vidros blindados. Crianças passeiam entre os automóveis. Pedestres apressados pedem passagem.
Gilda confere o relógio: 18h00. Os ponteiros parecem acompanhar o lento caminhar do trânsito.
Gisele chegou estranha em casa, ontem. Há tempos tem notado o afastamento gradativo da filha mais velha: mantenha distância. Gilda não vai mesmo com a cara daquele garoto com quem Gisele anda saindo. Acesso proibido.
Bi biiiiiiiiiiiiii. 9 graus, 20h00, qualidade do ar: imprópria. Chegando em casa tem de preparar o jantar. Vai conversar com a filha ainda hoje. Dizer que ela precisa voltar para o colégio. Precisar ser alguém na vida.
Freada brusca. Batida policial. Assalto ao ônibus. Infração gravíssima.
Parece que encontraram um homem morto na calçada. O painel eletrônico avisa que esta foi a madrugada mais fria do ano. Gilda detesta o frio. O vento gelando os ossos. Tudo congestionado.
E Mauro que não encontra nunca um emprego. Cada dia mais nervoso. Ele também não gosta daquele menino que Gisele está namorando. Também quer que ela volte a estudar.
No outdoor, jovens belos e sorridentes, de jaleco branco, observam através do microscópio. Uma frase avisa que uma carreira de sucesso começa ali.
BMWs, lotações, ônibus, bicicletas. A vida flui com dificuldade. Passagens interditadas. Pontos de alagamento. Estacionamento permitido apenas para veículos autorizados.
No bilhete da geladeira, a caligrafia arredondada de Gisele anuncia a fuga. Pé na estrada. Contramão.
